Embora não constitua uma novidade política, como a incursão histórica de Francis Fukuyama em "Identidades" demonstra, as últimas décadas assistiram à introdução do tópico “identidade” no domínio político. Podemos falar a esse propósito de uma “viragem identitária”, que parece ter relegado as questões económicas (que caracterizaram a discussão política dos últimos cem anos) para segundo plano e que tem marcado, de modo fundamental, os momentos eleitorais mais recentes. Essa viragem foi, naturalmente, antecedida de reflexão, mas foi o facto de se ter traduzido na realidade política concreta que levou a que tenha sido objeto, nos últimos anos, de uma crescente abordagem teórica e de uma ampla discussão no espaço público. As reflexões em torno do tópico encerram, por um lado, a reivindicação de que as políticas identitárias são essenciais para a construção de uma sociedade mais igualitária e, por outro, a defesa de uma pertença comunitária como fundamental para a organização política. Em Portugal, essa discussão foi despoletada pelas últimas eleições legislativas e deu origem a uma reflexão mais profunda sobre as causas, consequências e limites do discurso e das políticas identitários. A presente conferência procurará contribuir para esse debate e essa reflexão.