É nosso propósito com este trabalho de investigação trazer para o plano dos estudos da Estética o trabalho de uma figura incontornável da cultura portuguesa que se foi notabilizando nos domínios da ciência e da medicina. Falamos de Abel Salazar. Do seu percurso intelectual há ainda a destacar o desenvolvimento de um trabalho de indiscutível valia no domínio da Estética, o qual, pese embora essa condição, é ainda pouco conhecido nos dias de hoje, com consequente reflexo na ausência de uma reflexão estruturada sobre um tal contributo. Dada a sua formação de médico, Abel Salazar procurou dotar a sua proposta de Estética de um rigor e de uma precisão tais que é como se a própria Estética, que tradicionalmente foi marca da por indefinições de toda a sorte no seu percurso de afirmação disciplinar, devesse ser vista a partir da grelha de análise que define qualquer ciência objetiva. Com efeito, imbuído desse espírito e rigor científicos, este autor procurou questionar e especificar as sinuosidades de uma Estética científica, desenvolvendo aquilo a que chamou de “estudo tectónico do conceito de arte”. No âmbito desse estudo, alguns conceitos depressa reivindicam um papel de destaque, casos dos conceitos de “relação” e de “mistério”. São dois conceitos, curiosamente, que parecem afastar-se da ideia de rigor imposta pela moldura compreensiva diretamente adstrita às ciências objetivas de que falávamos antes, e que reclamam, também por isso, justa centralidade na nossa proposta de investigação.